A erosão progressiva da Depressão
- Wesley Lemos de Oliveira
- 27 de fev.
- 5 min de leitura
Atualizado: 24 de mar.

Por quê conseguimos imaginar com certa facilidade um contexto, de uma pessoa que está sofrendo fortemente com a depressão?
Por quê muitos terminam em sua cama?
Como é a erosão progressiva da Depressão?
A Depressão é um Transtorno Mental com fortes características psicológicas, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) possui uma lista de critérios para diagnosticar a depressão.
Mas a nossa pergunta é, por que terminam(os) na cama?
A Depressão é um efeito de perca, de abdicação, olhando por uma perspectiva, pois não daria para analisar todas, a menos que o texto se tornasse um colosso, em uma perspectiva de comportamentos, de escolhas, de consequências.
A Depressão tem uma forte relação de Esquiva e Fuga, que são funções comportamentais de evitação, em geral, são para proteger a pessoa de coisas "ruins", e no geral, são funções importantes de se ter, assim como Ansiedade, que se torna um problema quando sai de controle.
Esquiva (Preventiva) e Fuga (Reativa), são funções similares, que funcionam em tempo diferente, por exemplo, evitar ir para uma festa para não se sentir ansioso, é esquiva (está servindo para prevenir sentir ansiedade) e se ele vai embora de uma festa, que esta deixando-o ansioso é Fuga (está servindo para reagir a ansiedade presente).
O Depressivo, tem padrões fortes de esquiva/fuga, o Depressivo evita sofrimento, pois ela afeta o cérebro, e todo funcionamento do individuo, por isso a sensação de tristeza, e ela começa lentamente (mas nem sempre), uma pequena historia para ilustrar essa perspectiva.
Alex, se sentia desconfortável ao ir para a festa de comemoração de sua empresa, pois tinha um colega que era bem desagradável, então, Alex tem uma escolha, ele pode ir para a Festa e correr o risco de ter uma interação desagradável com esse colega, ou simplesmente evitar a festa, e se poupar do desgaste dessa interação desagradável.
Alex, fica confortável em casa, evitando a festa, mas muitas consequências difíceis de perceber estão em cena, o cérebro de Alex aprende ou refina um padrão evitativo, ganhando conforto em vez de ir em uma festa chata, mas ele pode se sentir culpado por não ir, ele pode ter que se justificar para outros colegas e ter que mentir, pois toda escolha tem seus pontos positivos e negativos.
Ao não ir na festa, Alex se priva de possibilidades, que vão para além dele, como conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, talvez o colega chato nem foi na festa, talvez Alex poderia descobrir os motivos que fazem o colega ser chato, ou ate mesmo mudar de opinião ao conhecer o colega melhor.
As possibilidades são vastas, mas uma função fica clara, ao abdicar de algo, ao evitar algo possivelmente desagradável, Alex fica em casa, esse já é um pé em padrões depressivos e em vários outros padrões evitativos sociais, uma vez ou outra, é tranquilo, mas quando começa a se tornar um padrão, começa a gerar grandes percas na vida do individuo.
Outro exemplo paralelo de Alex, em sua casa, hoje ele deveria ir no supermercado, fazer as compras da janta, mas, ao imaginar o esforço necessário, pegar o carro (que ele não se sente confortável dirigindo), dirigir até o supermercado (que é longe), estacionar (que tem vagas pequenas e difíceis), pegar o carrinho, e andar por vários minutos escolhendo os ingredientes, depois pegar uma fila, interagir com o colaborador que fica no caixa (que não é uma interação que deixa Alex ansioso), depois sair do estacionamento, pegar transito, retornar para casa com as compras.
Essa historia é simples, mas cada um sente coisas bem diferentes, o "peso" e o "custo" das ações para uma pessoa em depressão é bem diferente, as coisas são mais caras, o esforço é maior, e a desistência (evitativa) são fortes, a Depressão vai corroendo progressivamente a autonomia do individuo.
Alex, ao evitar ir no supermercado, recebe um breve alivio, ao não ter que se dar esse trabalho todo, mas esse alivio não é poderoso como ja foi um dia, pois nos adaptamos a tudo, ao bem, e ao mal, então, Alex sofre socialmente ao decepcionar sua família, provavelmente mais uma vez.
E essa curva é progressiva, não é unicamente por escolha, possuem efeitos complexos e extensos, mas pode chegar a um ponto, aonde Alex, se veja na mesma situação novamente, de ter que escolher entre evitar algo que ele não queira fazer, e chega um ponto, que ela sequer se parece com uma escolha, pode ser mais similar a um grilhão, correntes pesadas que impedem as outras opções.
Não é incomum, o relato de indivíduos que não saem da cama, pois é o fim e o inicio da rotina, é aonde começamos o dia, é aonde terminamos o dia, e o pensamento de "tenho que ir trabalhar", "preciso terminar o projeto", "tenho que arrumar as crianças para o colégio", "tenho que limpar a casa", tenho que escovar os dentes"...
São sofrimentos que todos temos diariamente, somos seres vivos, gastamos energia para viver, para nos mover, até respirar, gastamos agua ao respirar, e o corpo, a mente podem enfraquecer, ao ficar em descanso nossos músculos atrofiam, pois somos programados para economizar energia.
E assim como correr uma corrida de 5km é um enorme desafio para uma pessoa sedentária, pode ser algo corriqueiro para uma pessoa ativa fisicamente, as tarefas do dia-a-dia podem ser enormes desafios em situações especificas, o Depressivo desenvolveu, além de vários problemas químicos, que podem e provavelmente vão precisar de remédios para auxiliar a conseguir voltar a funcionar normalmente, assim como muletas para pessoas que ficaram muito tempo sem caminhar.
É por isso que o Depressivo pode terminar em uma cama, preso, com extrema dificuldade de reagir, foi um progresso longo e silencioso, e quando percebemos, já estamos com dificuldade, do mesmo modo que o sedentarismo, só sentimos problemas para andar, quando as pernas já estão debilitadas, a erosão é progressiva e silenciosa.
Além das percas secundarias ao caminho, alguém que evita eventos sociais, cedo ou tarde deixará de ser uma pessoa que os outros vão chamar, após diversos "não" os outros também vão desistir de ouvir um "sim", e percebemos tarde demais, por isso a rede de apoio de um depressivo é fundamental.
Esse foi um texto breve, espero que tenham gostado, serve apenas para abrir os olhos, um breve momento de foco no presente, quantas escolhas estamos fazendo recentemente, que nos privam de oportunidades? O que estamos pagando pelo conforto e desconforto que andamos sentindo?
Essas perspectivas são funções complexas, e não temos treinamento para observar essas coisas, não temos aulas de psicologia e desenvolvimento de padrões comportamentais, psicoeducação, o Psicólogo Clinico faz o treinamento e possui a leitura que é responsável por conseguir olhar, perceber e modificar essas variáveis, que tendem a passar invisíveis.
Todos deveriam ter acesso a Psicoterapia, é aqui que conseguimos refinar nossas potencialidades e arrumar nossas dificuldades, e a vida é curta. Faça Psicoterapia <3
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